Os desafios e lições de quem comunica evidências

Fernanda Marques 9 de novembro de 2022


Diferentes perspectivas da comunicação de evidências científicas foram apresentadas na tarde de terça-feira (8/11) durante o III Seminário Internacional e VII Seminário Nacional As Relações da Saúde Pública com a Imprensa. Para discutir o assunto, o evento reuniu a fonoaudióloga Mariela Ramos, supervisora de Comunicação em Saúde do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi); a jornalista Sabine Riguetti, professora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora da Agência Bori; e Marina Marinho, coordenadora substituta na Coordenação Geral de Evidências em Saúde do Ministério da Saúde. Com a moderação de Valéria Mendonça, professora da Universidade de Brasília (UnB), as convidadas falaram sobre o impacto da Covid-19 na comunicação de evidências.

 

Ao traçar um breve panorama da pesquisa e da inovação praticada no ICEPi, Mariela apontou a necessidade de uma maior aproximação do trabalho realizado pelos pesquisadores com os territórios, em especial a partir das lições aprendidas com a pandemia. Ela citou algumas iniciativas em curso com esse objetivo, como oficinas de media training e oratória para os pesquisadores, bem como sua capacitação em novas ferramentas de comunicação. O objetivo é pensar junto a pesquisa e a divulgação científica, “para disseminar as informações e subsidiar a tomada de decisões”, afirmou.

 

Sabine lembrou que o Brasil é um grande produtor mundial de ciência, embora 9 em cada 10 brasileiros não saibam citar um cientista ou uma instituição que faça pesquisa no país. Dados que demostram o que ela chamou de “descolamento” entre ciência e sociedade, e foi nesse contexto que emergiu a pandemia de Covid-19. Ao falar desse contexto, ela lembrou, também, a crise do jornalismo, com profissionais sobrecarregados, produzindo conteúdos para várias mídias com prazos curtos e sem especialização na cobertura de temas científicos. “Além dessas, outra das principais dificuldades dos jornalistas para cobrir ciência é conseguir acesso aos cientistas”, contou Sabine.

 

Com o intuito de fortalecer o jornalismo de ciência, surgia, em fevereiro de 2020, a Agência Bori, pensada para ser uma espécie de “vitrine”, monitorando e antecipando artigos científicos em vias de publicação e ofertando aos jornalistas cadastrados material explicativo de divulgação. Entretanto, logo após seu lançamento, a Bori foi surpreendida pela pandemia e, com ela, muitos jornalistas em busca de fontes para falar sobre Covid-19. Para atender a essa demanda, a Agência estruturou um banco de cientistas disponíveis para falar com a imprensa, além de cursos voltados a jornalistas. “A Agência Bori foi reconhecida como iniciativa de sucesso pela OMS”, comemorou Sabine, ao mesmo tempo em que pontuou os desafios desse trabalho. “Ainda precisamos avançar muito na valorização da comunicação social da ciência”, resumiu.

 

Temos conhecimento científico para resolver várias situações, mas não conseguimos traduzi-lo em políticas públicas. Foi com essa constatação que a terceira palestrante iniciou sua fala. Marina reforçou que as pesquisas para o SUS são fundamentais, porém não são suficientes para garantir a tomada de decisões baseada em evidências. “É preciso criar uma cultura de políticas públicas informadas por evidências”, disse, apresentando um pouco do trabalho intenso de síntese de evidências sobre Covid-19 durante a pandemia.

 

Falou também do trabalho desafiador de comunicar essas sínteses, levando em conta como os gestores – com diferentes perfis e agendas atribuladas – acessam e utilizam as evidências. “É preciso focar no usuário: o gestor não quer ouvir o ruído, isto é, o excesso de informações sem clareza; ele quer ouvir a música, ou seja, o significado daquelas evidências, como elas podem ser aplicadas e gerar respostas”, comparou Marina, que contou, por exemplo, sobre painéis interativos e cards informativos produzidos para comunicar evidências sobre Covid-19. “As evidências devem ser apresentadas de forma rápida e direta, com linguagem simples, destacando as principais informações e hierarquizando-as”, orientou, reforçando também a importância de aspectos subjetivos da comunicação, como a empatia, sobretudo em um contexto de incertezas.

 

A gravação da mesa já está disponível no YouTube da Fiocruz Brasília. Assista aqui

 

A programação do Seminário segue até sexta-feira (11/11). Confira  


As fotos do evento estão disponíveis no Flickr da instituição

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