Cúpula da OMS convoca para uso de evidências em políticas e tomada de decisões

Fernanda Marques 30 de novembro de 2021


Organizada pela Rede de Políticas Informadas por Evidências (EVIPNet) da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Cúpula de Evidências para Políticas (E2P) foi realizada online de 15 a 17 de novembro, reunindo mais de 600 participantes de todo o mundo. O Brasil, em especial por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde e da Fiocruz Brasília, foi um dos principais parceiros e apoiadores do evento. Realizada no contexto da pandemia de Covid-19, e tendo como foco principal o uso de evidências para a mudança de políticas e a melhoria da resiliência dos sistemas de saúde, a Cúpula marca a retomada da atuação da EVIPNet, que, por meio de editais e outras estratégias, tem um forte papel indutor do campo das políticas informadas por evidências, em nível global e local.

 

“A ciência sempre esteve no centro da melhoria”, disse o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na abertura do evento. “Não podemos esperar por outra crise para implementar mecanismos de evidências para políticas”, acrescentou. Angela Merkel, chanceler da Alemanha, e Michelle Bachelet, alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, também participaram do primeiro dia da Cúpula. Representantes de diversos países tiveram a oportunidade de trocar informações sobre como o uso de evidências contribuiu para o enfrentamento da Covid-19 em diferentes contextos nacionais e regionais, discutindo os desafios para a institucionalização desse processo e a importância da colaboração intersetorial.


A Rede EVIPNet Brasil teve uma participação expressiva na Cúpula. Brasileiros integraram os Comitês Científico e Executivo do evento. Entre eles, o pesquisador Jorge Barreto, do Colaboratório de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Fiocruz Brasília. “Esta Cúpula marca o retorno da EVIPNet no nível global, reforçando a liderança da OMS para arregimentar apoiadores, ministérios, instituições de pesquisa e engajamento social no campo das políticas informadas por evidências. E o Brasil tem um protagonismo nesse processo. O trabalho que a EVIPNet Brasil vem desenvolvendo tem sido bastante reconhecido, é uma referência”, afirmou Barreto.


Segundo o pesquisador, o evento abriu oportunidades importantes. No caso da Fiocruz Brasília, a Cúpula consolidou a parceria e fortaleceu a candidatura da Unidade a Centro Colaborador da OMS em políticas informadas por evidências. “A expectativa é que nossa designação seja feita já em 2022”, adiantou o pesquisador da Fiocruz Brasília. Atualmente, a OMS conta com três Centros Colaboradores nessa área, no Canadá, Estados Unidos e Reino Unido.


Outros desdobramentos da Cúpula para a instituição incluem colaborações regionais, com Chile e Colômbia, por exemplo; e a participação na equipe editorial de duas publicações técnicas internacionais – um manual sobre engajamento social e outro sobre a institucionalização das políticas informadas por evidências. Durante a Cúpula, Barreto moderou uma mesa de debates sobre a articulação entre instituições governamentais, de pesquisa e a avaliação de tecnologias de saúde, e as barreiras enfrentadas para integrar as evidências na tomada de decisões, na interface com os governos.


No último dia da Cúpula, houve o lançamento da iniciativa global EVIPNet Call for Action e coalizão de parceiros em prol de sistemas sociais sustentáveis ​​de políticas informadas por evidências. Para Barreto, a ação significa uma “mudança de cultura” entre os formuladores de políticas e os atores do ecossistema de evidências – entendido como um ambiente que aplica não só as evidências quantitativas, mas também as qualitativas, levando em conta e sistematizando aquelas informações que somente os atores envolvidos diretamente nas situações dispõem, bem como valorizando a gestão do conhecimento nas instituições. “Esperamos que o uso de evidências na política seja a norma e não a exceção”, sublinhou Barreto.


O pesquisador lembrou ainda que o Brasil já conta com uma iniciativa nacional. A Coalizão Brasileira pelas Evidências teve sua primeira reunião em abril deste ano, articulando cerca de 40 instituições brasileiras que atuam na área das políticas informadas por evidências, entre elas a Fiocruz Brasília. A proposta dessa rede é o compartilhamento de saberes e práticas, fortalecendo a cultura do uso de evidências para políticas públicas e intervenções sociais.

 

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