A publicação sistematiza práticas e reflexões voltadas ao fortalecimento de sistemas agroalimentares saudáveis, sustentáveis e justos.
Por Iris Pacheco (Psat/Fiocruz Brasília)
Na última sexta-feira (17), a comissão organizadora da Tenda Rachel Carson realizou a Feira de lançamento de livros e publicações agroecológicas no 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Juazeiro da Bahia. E a Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT), juntamente com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar (MDA), lançou o livro Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar na Promoção da Saúde, que reúne experiências, análises e proposições para o fortalecimento da agricultura familiar, dos territórios rurais e de suas intersecções com a saúde pública, o ambiente e o trabalho.
Gabriela Bica, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e vice-diretora da região Sul da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), uma das organizadoras do espaço de lançamento, comentou sobre a diversidade e a dimensão da iniciativa: “a tenda Raquel Carson, recebendo o lançamento de 33 obras de autores únicos ou coletivas, que estão trazendo coleções com até 20 obras. É um movimento muito interessante, e a gente percebe que esse espaço precisa ampliar a cada nova edição do CBA. Inclusive, porque é um orgulho muito grande para essas pessoas poderem trazer suas obras para lançar aqui. É um espaço que está crescendo muito e vai tomando uma proporção cada vez maior”, enfatizou.
O espaço de lançamento contou com a participação de autoras, autores e editoras. As atividades foram distribuídas em três blocos, cada um com duração de uma hora e composto por dez publicações. É neste contexto que o livro Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar na Promoção da Saúde foi lançado.
O Pesquisador da Fiocruz e Coordenador do PSAT, André Fenner, apontou o objetivo da organização da obra, que nasceu de uma aproximação entre a Fiocruz e o Departamento de Monitoramento, Avaliação e Pesquisa do MDA. “Naquele momento, essas duas entidades se aproximaram e pensaram em organizar uma coletânea de relatos de experiências que pudessem representar os eixos de trabalho que o MDA vinha trabalhando no seu projeto estratégico, e incluiu a promoção da saúde ambiente trabalho, onde fazia toda a correlação da questão do desenvolvimento agrário da agricultura familiar com a Fiocruz e com a saúde pública dentro dessa perspectiva”, contextualizou.
A obra apresenta relatos de experiências em diferentes territórios, bem como reflexões teóricas e metodológicas sobre o desenvolvimento agrário, agricultura familiar, sistemas agroalimentares e promoção da saúde. Ela aborda temas como: a articulação entre agricultura familiar e políticas de saúde, trabalho e ambiente; a construção de sistemas alimentares locais mais justos, sustentáveis e saudáveis; a contribuição dos territórios rurais para a saúde coletiva e para a equidade e o papel das políticas públicas, dos movimentos sociais e das organizações do campo.
“Todos os relatos passaram por um crivo de avaliação e de pontuação, e nós ficamos com 49 relatos finais, fazendo parte da seção dois do livro. A primeira seção traz alguns aspectos bem mais estruturais de organização do MDA, a relação do mesmo com o PSAT, com a saúde e a Fiocruz. E o final é um artigo que analisa o perfil das pessoas que mandaram esses relatos, se eram mulheres, quais estados e regiões do Brasil estavam. Então, ele foi complexo e trabalhado em várias mãos e de uma forma muito parceira”, explicou André.
Sobre o livro
O livro é uma iniciativa que se fez necessária diante da ausência de informação dos últimos seis anos dos governos anteriores, que não fizeram nenhuma publicação, pois não aproximou dos movimentos da agricultura familiar, e isso resultou em um apagão histórico de produções científicas e acadêmicas no período.
O lançamento se insere em um momento de crescente atenção sobre a interface entre saúde, meio ambiente, trabalho e território rural. A publicação ganha relevância não apenas como compilado de boas práticas, mas também como subsídio para formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas que considerem a agricultura familiar como vetor de saúde e sustentabilidade.
Para André Fenner, é uma obra que se apresenta como fundamental no entendimento de que a saúde pública, pois trabalha com as populações do campo, da floresta e das águas, principalmente na implementação da Política Nacional de Saúde Integral. Segundo o pesquisador, essas populações são objeto de trabalho do MDA e grande parte desses movimentos sociais e entidades fazem parte do Conselho de Desenvolvimento Sustentável (CONDRAF), que é vinculado ao Ministério da Agricultura Familiar, e nesse Conselho as pautas dessas populações são trazidas à tona.
“A saúde é um tema transversal em todas as políticas e é fundamental, seja no desenvolvimento agrário e na agricultura familiar, nos direitos humanos, na questão das mulheres. Então, a saúde potencializa as ações do Ministério do Desenvolvimento Agrário, porque o agricultor familiar tem que ter a promoção de uma boa saúde para que ele consiga produzir, consiga trabalhar. Logo, a questão da saúde está vinculada aos processos de trabalho que a agricultura familiar faz para conseguir produzir e trazer alimento na mão do brasileiro”, ressaltou.
O livro está disponível em formato digital no repositório da Fiocruz para acesso público, aproximando-se de uma lógica de democratização do conhecimento e de estímulo à difusão de saberes construídos em territórios rurais. Acesse aqui o E-book
Sobre a Tenda Rachel Carson e o CBA
Organizada pelo Grupo de Trabalho (GT) Contra os Agrotóxicos e Transgênicos da ABA-Agroecologia em conjunto com movimentos, organizações, grupos acadêmicos e campanhas que compõem coletivamente uma coesa frente de denúncia, resistência e enfrentamento ao avanço do Agronegócio em todo o país, a Tenda Rachel Carson chega à sua terceira edição no 13º CBA.
Seu nome é em homenagem à primeira cientista que, ética e corajosamente, estudou e denunciou os impactos negativos do uso de agrotóxicos sobre os ambientes no mundo. Rachel Carson (1907–1964) foi uma bióloga marinha, ecologista e escritora norte-americana, reconhecida como uma das precursoras do movimento ambientalista moderno, alertou para os impactos ambientais e à saúde humana causados pelo uso indiscriminado de pesticidas sintéticos, especialmente o DDT.
Portanto, as vivências articuladas pelo coletivo que promove a Tenda Rachel Carson busca refletir sobre o papel de todas as pessoas, do campo e da cidade, na garantia do acesso à terra e ao território, na superação da fome com alimentação saudável e agroecológica, limpa de venenos, de contaminantes e de sangue das diversas populações brasileiras.
Já o Congresso Brasileiro de Agroecologia é realizado a cada dois anos desde 2003, e é construído por uma ampla frente de parceiros nacionais e internacionais, configurando-se como o maior encontro latinoamericano de agroecologia.
Mais que um espaço de fortalecimento da agroecologia como ciência, o CBA é um território de diálogo entre diferentes formas de conhecimento, proporcionando legados agroecológicos em todos os territórios por onde ele passa.
Fotos: Karen Lima
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