Conferência defende o cuidado em liberdade no SUS

Fernando Pinto 27 de junho de 2022


Com informações do NUSMAD e da SES/DF 

 

A Fiocruz Brasília esteve presente nos dias 22 e 23 de junho na 3ª Conferência Distrital de Saúde Mental. O evento teve como tema central “A política de saúde mental como direito: pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da atenção psicossocial no SUS”. A programação contou com vários eixos temáticos que abordaram o cuidado em liberdade como garantia de direito à cidadania; gestão, financiamento, formação e participação social na garantia de serviços de saúde mental; a política de saúde mental e os princípios do SUS – universalidade, integralidade e equidade; e os impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e após a pandemia. Este último eixo contou com a participação da psicóloga e diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio.

 

Segundo ela, a conferência tem por objetivo apontar as principais dificuldades que os profissionais de saúde e os usuários do SUS vivenciam no campo da saúde mental no Distrito Federal. “Temos que reconhecer todos os problemas enfrentados e, ao mesmo tempo, escutar e dialogar para ver quais são os caminhos de mudanças que precisamos promover. Que essa conferência seja um canto de esperança para o cuidado da saúde mental de todos nós”, salientou.

 

Fabiana saudou os residentes, preceptores e tutores da Fiocruz Brasília, que, durante a pandemia, trabalharam intensamente nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em defesa da vida e do SUS. Para ela, precisamos seguir trabalhando como um coletivo e, a partir dos diversos olhares, reunir os saberes e os esforços necessários para desenhar as estratégias de fortalecimento do SUS. “A gente precisa reconhecer a saúde mental na sua transversalidade em todos os níveis dentro do SUS, passando por todos os setores, lembrando também os trabalhadores invisíveis que atuaram com muito esforço e dedicação na linha de frente do enfrentamento da pandemia”, ressaltou.

 

Ela lembrou também a importância de fortalecer a promoção da saúde mental a partir da leitura e do enfrentamento das diversas desigualdades e vulnerabilidades sociais. “É a partir do SUS que conseguimos seguir dando respostas à pandemia e suas consequências”, disse, ao destacar o trabalho da Fiocruz na produção e distribuição da vacina contra a Covid-19.  

 

Para a secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio, a saúde mental é um pilar muito importante para o SUS, em especial neste cenário de pandemia em que ainda vivemos. Ela falou da importância de promover a humanização no atendimento aos usuários dos serviços de saúde mental, enfatizando a necessidade de um cuidado multidisciplinar, que permita a equidade de acesso a terapias, grupos de ressocialização, assistência social e psicológica. “Não é só indicar medicamentos para estes usuários, é tratá-los de maneira efetiva, com humanização no cuidado”, resumiu. De acordo com a diretora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde (DISSAM/SESDF), Vanessa Soublin, a conferência dá voz aos usuários, gestores e aos trabalhadores dos serviços de saúde mental e com o debate são redirecionadas as políticas públicas para a área. “No atual cenário, se faz ainda mais necessária essa discussão, pois já se espera as consequências para a saúde mental da população a médio e longo prazos”, destacou.

 

Durante a abertura do evento, o coordenador do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (Nusmad) da Fiocruz Brasília, André Guerrero, ressaltou a importância da Conferência em um momento histórico no DF. “Depois de 10 anos estamos retomando este espaço”, frisou. Ele destacou também as iniciativas de qualificação dos serviços de saúde promovidas pela Fiocruz, o Conselho de Saúde do Distrito Federal (CSDF) e a SES/DF, como o Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (Qualis APS) e o processo de supervisão clínico-institucional em parceria com a Diretoria de Serviços de Saúde Mental. “Essa é uma construção coletiva; unidos conseguimos avançar e melhorar a saúde pública no DF e no SUS como um todo”, destacou.

 

Para a representante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua e primeira adolescente do DF eleita delegada na Conferência Distrital, Aisha Rafaela Basílio, é preciso seguir com um olhar atento para essas pessoas. A adolescente comentou o preconceito enfrentado por essa população por parte da sociedade, dos profissionais de saúde e dos órgãos de fiscalização do governo. Segundo ela, falta um preparo para o acolhimento dessas pessoas. “A rua, muitas vezes, é o único abraço ofertado”, afirmou, ao questionar os presentes sobre as razões que levam uma pessoa a viver na rua.

 

Aisha é uma das adolescentes que participam do projeto Territórios da Construção de Si: processos de desinstitucionalização de jovens e adolescentes pela maioridade, parceria da Fiocruz Brasília com o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT), iniciado em dezembro de 2020. O projeto vem preparando adolescentes de instituições de acolhimento e em situação de rua para participarem da 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental, prevista para novembro de 2022.

 

Luísa de Marillac, promotora do MPDFT, defendeu a importância do debate sobre saúde mental entre os diversos participantes da Conferência, pois a elaboração de políticas públicas se faz com participação social. “O Ministério Público é um agente da defesa da democracia. Democracia é o que se faz com participação social na elaboração das políticas públicas, é o que essa Conferência está fazendo: participação social, dos usuários e dos profissionais que trabalham nos serviços de saúde mental. É isso que faz com que a democracia seja viva”, afirmou.

 

Ela destacou, ainda, que a saúde mental não pode ser invisibilizada – é preciso escutar as vozes que estão sendo caladas, vozes de pessoas que, muitas vezes, precisam de atendimento em saúde mental e devem ter sua dignidade respeitada. “A saúde mental precisa ser disseminada dentro de todas as unidades de saúde”, enfatizou. A representante dos usuários do CAPS, Luciana Claudino, concordou que o evento representa um marco para todos que necessitam dos serviços de saúde mental no DF.

 

A 3ª Conferência Distrital de Saúde Mental finalizou suas atividades com a eleição de 36 delegados, que vão representar o DF durante a etapa nacional da Conferência. Os eleitos vão participar da elaboração das diretrizes nacionais voltadas à saúde mental. A Fiocruz, por meio de seus residentes, contribui também na relatoria de todo o evento. O evento reuniu usuários, gestores e trabalhadores dos serviços de saúde mental, contando com a participação desses atores no debate dos eixos e das políticas que vão integrar o Plano Distrital de Saúde Mental para o período de 2024 a 2028. Segundo a diretora da DISSAM/SESDF, Vanessa Soublin, as pautas propostas na Conferência serão encaminhadas para o Conselho Distrital de Saúde. “É a participação da sociedade moldando e decidindo as estratégias e os rumos que a saúde vai seguir”, afirmou.

 

Confira nos links como foi a abertura, os debates dos eixos e a plenária final

 

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