“Esperançar é luta que se faz no coletivo”

Fernanda Marques 29 de setembro de 2021


No ano em que a Fiocruz completa 45 primaveras em Brasília, poucos dias depois da chegada desta estação do ano, na tarde de 27 de setembro, uma roda de conversa virtual trouxe falas potentes justamente sobre a importância de florescer e esperançar, resgatando vários ensinamentos de Paulo Freire. Como parte do Ciclo de Inspirações para o Futuro, que celebra o aniversário da instituição na capital federal, a live “Amorosidade” reuniu Vera Dantas, médica e educadora popular; Daniela Rueda, educadora popular e ativista da economia solidária; e Osvaldo Bonetti, professor e pesquisador da Fiocruz Brasília, responsável pela condução da conversa.

 

“Esperançar é verbo, luta que se faz no coletivo”, disse Vera. “A gente não precisa ser tudo, mas precisamos seguir sendo mais, e somos mais quando estamos juntos. Precisamos seguir cuidando de nós, do outro, de todos”, acrescentou. Ao compartilhar suas experiências, a médica destacou que a amorosidade se faz presente no cuidado em saúde quando este cuidado incorpora a cultura, os saberes e as práticas populares, aumentando o sentido de pertencimento. “Cuidamos dos companheiros e companheiras não para que fiquem dependentes de nós, mas para que percebam suas próprias potências”, afirmou.

 

A potência da união de forças em torno da economia solidária foi destaque na fala de Daniela. Ela argumentou que a amorosidade também se expressa em formas de produção menos padronizadas e mais cooperativas e solidárias, pautadas pela defesa de direitos e a autogestão, com participação e autonomia. “Pensar o trabalho é também pensar a saúde”, ressaltou.

 

Para as convidadas, compreender o sentido ampliado de saúde faz parte do processo de esperançar. “Pela arte se expressam as paixões alegres e o desejo de continuar vivendo, lutando, participando”, comentou Vera, lembrando uma situação de quando era recém-formada e cordelistas contribuíram com sua arte para a comunicação em saúde e a redução da mortalidade infantil em uma comunidade. “O cuidado em saúde contextualizado, com escuta e olhar de compromisso: lutamos para que tudo isso seja direito, inclusive a amorosidade”, pontuou. 

 

Ela é, inclusive, um dos princípios da Política Nacional de Educação Popular em Saúde do SUS, lançada em 2013. “Foi um ato de coragem”, definiu Osvaldo, referindo-se à necessidade de superar preconceitos e deboches para o reconhecimento da amorosidade como algo essencial à promoção da saúde e à reprodução da vida.

 

Tatiana Nascimento, poeta, compositora e cantora, também ingressou na sala virtual do evento, mas só participou como ouvinte por um motivo totalmente alinhado ao tema da amorosidade: os cuidados com sua bebê, que passara boa parte da madrugada acordada e estava sendo ninada. “Aproveito para desejar uma prosa muito amorosa para vocês”, escreveu no chat no início do bate-papo. 

 

No encerramento, Paulo Freire foi mais uma vez lembrado, quando Osvaldo fez a leitura de um trecho do livro Pedagogia do Oprimido: “Porque é um ato de coragem, nunca de medo, o amor é compromisso com os homens, onde quer que estejam estes, oprimidos, o ato de amor está em comprometer-se com sua causa. Como ato de valentia, não pode ser piegas; como ato de libertação, não pode ser pretexto para a manipulação, senão gerador de outros atos de liberdade. A não ser assim, não é amor”.

 

Clique aqui e assista à live “Amorosidade”

 

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