Rima e Resistência: educação popular em saúde vira hip-hop nas Chapadas

Fiocruz Brasília 30 de setembro de 2025


Mateus Quevedo (Angicos/Fiocruz Brasília)

 

No último sábado, 27 de setembro, a Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, na Vila de São Jorge, no município de Alto Paraíso de Goiás, no coração da Chapada dos Veadeiros (GO), recebeu a iniciativa Saúde nas Chapadas. O Saúde nas Chapadas é uma extensão do projeto Saúde nas Quebradas, com ações voltadas à saúde coletiva e à saúde mental das juventudes nas quebradas do Distrito Federal, organizado pelo Instituto Periferia Livre. A Fiocruz Brasília, por meio do Núcleo de Educação Popular, Cuidado e Participação na Saúde, o Núcleo Angicos, é promotora do projeto.

 

“É um evento que nasce de uma iniciativa de um projeto chamado Saúde nas Quebradas junto à Fiocruz, e a partir desse diálogo entre os territórios, as conexões e os afetos, a gente trouxe para cá com foco na saúde coletiva e na intersetorialidade”, afirma Ravena Carmo, uma das coordenadoras do projeto. “Falar de saúde é falar de assistência, é falar de cultura, é falar de educação, é falar de alimentação, é falar de bem-viver. Então, a partir desses princípios, nós temos convocado, nós temos convidado vários atores dentro desse cenário, para que a gente possa dialogar, de fato, a saúde que queremos”.

 

A programação contou com rodas de conversa, oficinas sobre ervas sagradas e medicinais, tranças, grafitti e break. As oficinas ocorreram no horário da tarde. Durante a manhã, foi realizada a roda de conversa “Saúde nas Chapadas: diálogos intersetoriais e comunitário”, que abordou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para a garantia de qualidade de vida nos territórios, além de apontar a importância do reconhecimento e o compartilhamento dos saberes e conhecimentos ancestrais, tradicionais e populares.

 

A roda contou com a participação de Dona Deija Morais, raizeira e doula do Povoado do Moinho; Joaquim Wilson, também raizeiro do Povoado do Moinho; Regis Spindola, representante do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS); Maria Rocineide Ferreira da Silva, do Ministério da Saúde; e Osvaldo Bonetti, do Núcleo Angicos.

 

“A integração do SUS e do SUAS é o que possibilita que as pessoas que estão em maior vulnerabilidade social ou vulnerabilidade em saúde tenham acesso a políticas públicas e consigam, por meio das nossas equipes, das nossas unidades públicas, superar essas situações”, apontou Regis Spindola, que atua como diretor de Proteção Social Especial da Secretaria Nacional de Assistência Social do MDS. “Eventos como este hoje de saúde aqui na Chapada, envolvendo as duas áreas, promovendo rodas de diálogo e apresentações culturais, é fundamental para que a  gente possa divulgar as duas políticas e avançar cada vez mais.”

 

Maria Rocineide, coordenadora-geral de Articulação Interfederativa e Participativa no MS, abordou a importância da Política Nacional de Educação Popular em Saúde, a PNEPS-SUS. “É muito importante estar aqui, discutindo Educação Popular em Saúde, ouvindo os saberes da tradição desse lugar, desses povos e construindo a partir desse diálogo com governo, academia e saberes populares a saúde que faz sentido para cá. Por isso, que tem que ser local, tem que ser escuta, como diz a PNEPS-SUS. É a verdadeira gestão compartilhada do conhecimento e a construção de um projeto democrático e popular, acreditando no amor e na fé das pessoas.”

 

Na mesma linha, Osvaldo Bonetti também apontou a importância da PNEPS-SUS e seus princípios. “Está sendo um encontro eu que a gente está reafirmando a Educação Popular em Saúde, os princípios freirianos, que se agregam à saúde coletiva, no sentido de indicar que, para promover saúde, fazer saúde, a gente precisa reconhecer a cultura popular, construir de forma compartilhada, ouvir os saberes dos territórios, em especial, os saberes populares da nossa ancestralidade”. Bonetti também defendeu a importância da intersetorialidade do SUS e do SUAS. “Foi um sábado de muita produção, de muito encantamento e de muita construção de futuro, de muito esperançar freiriano.”

 

O ponto alto da programação foi a batalha de rima, em que os participantes foram desafiados a cantarem sobre a “Saúde nas Chapadas”, rimando com a força do território e os potenciais das juventudes. Foi um momento para reafirmar a importância da cultura das quebradas para a promoção de saúde e cuidado. A atividade contou, ainda, com show do grupo Vozes da Chapada e do MC Marinho. A noite foi finalizada com o show com o grupo de rap feminino Atitude Feminista, que cantou denúncias contra o feminicídio e a violência contra as mulheres. A atividade é um exemplo de que a promoção de saúde e cuidado nos territórios começa pela valorização das pessoas.

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