Relato de Karenina Melo (maio/2025)
Com coragem para mudar os planos e determinação para seguir novos caminhos, a médica veterinária Karenina Melo compartilha sua trajetória na Residência em Vigilância em Saúde da Escola de Governo Fiocruz – Brasília. Entre desafios, descobertas e muitas transformações, ela conta como enfrentou o inesperado, trocou o conforto do planejamento por uma viagem de 28 horas e viveu experiências que mudaram sua vida, dentro e fora do Brasil. Leia o depoimento de Karenina nesta edição do “Dê Letras à Sua Ação” e se inspire com essa história real de quem decidiu tentar, se jogar e descobrir onde poderia chegar.
Meu nome é Karenina Melo, sou médica veterinária, meio mineira, meio baiana, e residente em Vigilância em Saúde pela Escola de Governo Fiocruz – Brasília. Minha trajetória com a residência começou um pouco antes de, de fato, ingressar nela.
No final da graduação, durante o estágio obrigatório na UnB, conheci o programa de residência em Vigilância em Saúde. Meus futuros coordenadores foram até meu local de estágio apresentar o que seria a primeira turma dessa residência no Distrito Federal. Até aí, parecia uma história simples: conheci a residência, me interessei e decidi tentar. Mas havia um detalhe, eu morava e estudava na Bahia, bem distante de Brasília. Além disso, sou taurina, ou seja, já tinha todo o meu futuro meticulosamente planejado após a formatura. Mudanças abruptas definitivamente não faziam parte do roteiro. A residência, portanto, não estava nem de longe nos meus planos.
Mas outras características do meu signo também falaram mais alto, a teimosia e a determinação. Eu não ia deixar passar uma oportunidade dessas sem ao menos tentar. Fiz a inscrição para a prova, estudei o máximo que consegui com o tempo que tinha, encarei uma viagem de ônibus de 28 horas até Brasília, e mais 28 para voltar. De repente, todos os meus planos mudaram de direção. E eu sentia que essa mudança era certa. Coloquei o máximo de vida que coube em duas malas e me mudei.
Tudo seria novo, uma nova cidade, uma nova fase da vida, novos vínculos. E tive a sorte imensa de ser muito bem acolhida. O programa, os colegas, a beleza única de Brasília e a construção de novos laços tornaram tudo mais leve e significativo.
Já no programa de residência, meu primeiro campo prático foi na vigilância ambiental, onde passei seis meses na Diretoria de Vigilância Ambiental (DIVAL) da Secretaria de Saúde do DF. Nesse período, onde acumulo boa parte das minhas melhores lembranças, convivi diariamente com mais quatro colegas de residência, que hoje são meus amigos.
Lá, além de estreitar vínculos, pude me desenvolver como profissional. Na DIVAL, participei de várias saídas de campo e práticas, como ação de vacinação antirrábica, análises laboratoriais, análises estatísticas, aprendizado em gestão e comunicação com o público, além de investigações e orientações em saúde. Sem falar, é claro, no contato diário com os animais que eram levados até a DIVAL para vacinação ou testagem para leishmaniose, e também os animais que estavam lá para adoção. É realmente gratificante trabalhar em um local onde você se sinta seguro para opinar e também tirar dúvidas, um local em que você seja ouvido e visto como um profissional que está ali para aprender, mas, sobretudo, para apoiar.
Outra oportunidade incrível que a residência me possibilitou foi um estágio internacional em Cuba, onde pude conhecer um sistema de saúde com os mesmos princípios do nosso SUS, e também desfrutar de uma cultura completamente nova para mim e muito rica. Novamente, eu, em um lugar desconhecido, com pessoas que também não conhecia e, para variar, agora, com um idioma diferente também. E, mais uma vez, tudo foi feliz, acolhedor e, com certeza, único na minha vida.
Deixo aqui, então, o meu incentivo para quem quer fazer uma residência e está inseguro ou com receio de tentar. A vida pode mudar e cabe a nós escolher: ou ficar na zona de segurança, que também pode se mostrar não tão segura depois de um tempo, ou se arriscar e se permitir algo novo. Você nunca saberá o quão longe pode chegar se não começar a trilhar o seu caminho. Como diria a filósofa contemporânea Pabllo Vittar: “melhor se arrepender do que passar vontade”.
“Dê Letras à Sua Ação” busca divulgar artigos assinados por colaboradores e estudantes da Fiocruz Brasília sobre iniciativas relacionadas a seus trabalhos ou de seus colegas. Os relatos são de responsabilidade de seus autores.
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