Fiocruz Brasília lança projeto para fortalecer territórios saudáveis e sustentáveis no país

Nathállia Gameiro 12 de maio de 2025


Iniciativa atuará em 15 territórios e articula políticas públicas, participação social e promoção da saúde com foco nas realidades locais

Com o auditório lotado, foi lançado oficialmente, na última quarta-feira (7/5), o projeto Territórios Saudáveis e Sustentáveis na Promoção do Cuidado: abordagem interseccional e intersetorial na Promoção da Saúde. A iniciativa é do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (Psat) da Fiocruz Brasília, em parceria com o Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde (Depros), da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, por meio do Termo de Execução Descentralizada (TED) 168/2024.

A proposta busca fortalecer a saúde nos territórios com uma abordagem intersetorial, participativa e centrada no cuidado, incorporando ainda recortes interseccionais que consideram aspectos sociais, étnico-raciais e de vulnerabilidade. Com duração de três anos (2025–2027), o projeto será implementado em 15 territórios estratégicos, abrangendo as 27 unidades da federação, com início pelas regiões Norte e Nordeste. Os cinco primeiros territórios que receberão as formações ainda neste mês são: Breves (PA), Codó (MA), Mossoró (RN), Marabá (PA) e Cachoeira (BA), envolvendo diretamente ou indiretamente 78 municípios.

O lançamento contou com a presença de representantes de movimentos sociais, instituições de ensino, gestores públicos e pesquisadores, todos reunidos com um objetivo comum: construir, de forma coletiva, caminhos para transformar os territórios em espaços promotores de saúde, sustentabilidade e justiça social.

“Acreditamos firmemente que a saúde se constrói nos territórios, com a participação ativa da população e o olhar atento das políticas públicas. É essencial que o poder público esteja presente, lado a lado com a comunidade, para construirmos juntos um futuro mais saudável e justo para todos. Iniciativas como esta representam a concretização do compromisso da instituição com a defesa da vida, da equidade e da cidadania. Promover saúde é também promover dignidade, pertencimento e justiça”, afirmou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, durante a mesa de abertura.

Ela também destacou que o projeto dialoga com uma mudança de paradigma no campo das políticas públicas, que hoje exige escuta sensível, ação coletiva e protagonismo social.

Durante o evento, representantes de diferentes setores ressaltaram o ineditismo e a relevância da iniciativa. Para Jorge Machado, pesquisador e um dos coordenadores do PSAT, o projeto toca em aspectos estruturantes da saúde pública brasileira. “Sabemos que o caminho para uma saúde plena passa pela sustentabilidade, pela escuta atenta da comunidade e pela união de diferentes setores. Nosso desafio é grande, mas acreditamos no poder da ação conjunta para transformar realidades”, pontuou.

O pesquisador André Fenner, um dos coordenadores do PSAT, afirmou que o projeto que vai envolver movimentos sociais e conselhos de direito, buscando a formação e ação desses movimentos sociais para a promoção da saúde em territórios de cuidado. “Esperamos que ao longo da passagem desse projeto, a gente possa trazer algumas soluções e reflexões para esses territórios. Um melhor país e um melhor bem viver para todos”, afirmou. Já a representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Ana Emília Moreira, afirmou estar convicta de que é possível construir, de forma coletiva, territórios onde a saúde floresça em sua integralidade. “A emoção que sinto reflete a urgência e a esperança que este projeto representa para tantas comunidades”, ressaltou.

A diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Angela Fernandes, destacou que o projeto está alinhado à visão de saúde construída em parceria com as comunidades, valorizando seus saberes e suas necessidades. Para ela, a intersetorialidade e o protagonismo local são elementos essenciais para enfrentar, de forma eficaz e sustentável, os desafios da promoção da saúde no Brasil.

Já o secretário-adjunto da Secretaria Nacional de Participação Social da Presidência da República, Valmor Schiochet, reforçou que a parceria com a Fiocruz é um caminho para fortalecer ainda mais a participação social nos territórios. A conselheira nacional de saúde, Franscylane Vitória da Silva, celebrou o compromisso da Fiocruz com a formação crítica e a ampliação da democracia participativa. “Acreditamos que a formação de profissionais qualificados nessa área é crucial para o avanço da democracia e da saúde em nosso país.”

O projeto

O Territórios de Cuidado é voltado para lideranças de organizações e movimentos sociais que atuam na promoção da saúde, participantes de conselhos de direitos, gestores e trabalhadores de instituições públicas. Em um primeiro momento, foram identificadas e mobilizadas organizações sociais, movimentos populares e instituições públicas que atuam com promoção da saúde e redes de cuidado.

A proposta prevê ainda uma intensa agenda de oficinas de articulação sobre a temática da promoção da saúde, além de cursos de formação, que terão início já no dia 13 de maio, em Mossoró. As ações formativas abordarão temas como determinação social da saúde, territórios e modos de vida, cultura e saúde, promoção da saúde e participação social. O projeto surge como desdobramento de experiências anteriores da Fiocruz Brasília em promoção da saúde, vigilância popular e articulação em rede. Os territórios foram selecionados com base em critérios como a presença de movimentos e organizações sociais, índices de vulnerabilidade social, insegurança alimentar e nutricional, e presença de população quilombola.

Para a pesquisadora do Psat e coordenadora de formação do projeto, Gislei Knierim, é imprescindível garantir a presença dos movimentos sociais nos processos formativos, independentemente do nível de escolaridade de seus representantes. “A gente acredita e defende que precisamos ampliar o imaginário da nossa população sobre o que é promoção da saúde e o que temos construído historicamente sobre saúde. Afinal, saúde é o reflexo da luta e o SUS é fruto dessa construção coletiva de trabalhadores da saúde, pesquisadores e gestores — e isso permanece como princípio nos nossos processos formativos”, afirmou.

Ela reforçou ainda que o projeto busca interiorizar as ações de formação, levando conhecimento e diálogo para regiões afastadas dos grandes centros urbanos. “Vamos trabalhar com sujeitos coletivos que têm compromisso com suas comunidades. Queremos aproximar o SUS da realidade local e, com isso, revelar o que os grupos organizados daqueles territórios já constroem em termos de promoção da saúde — desde os modos de se alimentar e produzir a vida até as formas de organização comunitária. Nosso objetivo é construir saberes que colaborem com políticas públicas mais alinhadas às realidades locais”, concluiu.

 

O evento de lançamento do projeto contou ainda com mesas de debate. Assista à integra no YouTube da Fiocruz Brasília.

 

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