“Até o sol é brasileiro”: cerimônia de abertura do Abrascão 2022

Fiocruz Brasília 21 de novembro de 2022


Hara Flaeschen (Abrasco)

“Nunca mais, nunca mais o despotismoRegerá, regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações” 

A voz de Aiace entoou o Hino do 2 de julho – que rememora a vitória do povo contra os invasores portugueses na Bahia, em 1823 – e deu o tom da cerimônia de abertura do 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, em Salvador, na noite de domingo (20/11). Inspiração de resistência, um ode à soberania dos povos, e ao que não deve ser esquecido. 

Construir um congresso desse porte exige coragem. A Abrasco (e toda a Saúde Coletiva), concentrou todas as energias, desde 2020, para tentar conter o desastre da Covid-19 e salvar vidas. Não há fomento à ciência, os cortes nas instituições de ensino e pesquisa são profundos. Por causa da sociedade civil o SUS se manteve firme, ainda que sucateado.

 

+ Confira todas as fotos da abertura, no Flickr da Abrasco

 

“Nunca como na pandemia o SUS pode ser conhecido por aqueles que não o utilizavam, nem tão valorizado pelos seus usuários habituais. Nunca como nestes anos pandêmicos, nós, sanitaristas, pudemos nos orgulhar tanto de quem somos e do que escolhemos. Nós sabemos e lutamos pela defesa da vida coletiva, porque sabemos que o planeta é um só e não haverá saída local nem individual, senão – e somente – coletiva”, afirmou Rosana Onocko Campos, presidente da Abrasco, saudando a comunidade da Saúde Coletiva presente. 

“Conseguimos chegar aqui, movidos pela força agregadora do trabalho coletivo”, discursou Isabela Cardoso, presidente do Congresso, para as cerca de quatro mil pessoas presentes no auditório Lélia Gonzalez. “A mesma força que resistiu à escalada da extrema direita, lutou contra o negacionismo e a necropolitica que ceifou a vida de mais de 680 mil brasileiros e brasileiras, organizou a resistência ao fascismo e permitiu que nós abríssemos esse Congresso com a alma em festa”.

Alma em festa é exatamente como podemos descrever o sentimento ao escutar Lazzo Matumbi, que silenciou todo e qualquer pensamento enquanto cantava o Hino do Bonfim, um símbolo inter religioso pela “graça da justiça e da concórdia”. A apresentação do cantor também foi mais uma reafirmação de como o Abrascão 2022 foi elaborado – a muitas mãos: baiano, brasileiro. 

“Quanto o tema do Congresso foi escolhido, não sabíamos se este seria um Congresso para formular resistências aos desmontes antidemocráticos ou de celebração e formulação de ideias e proposições para fortalecer as ações democráticas no campo da saúde a serem implementadas muito em breve”, relembrou Maurício Barreto, coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia e presidente de honra do Congresso, Maurício Lima Barreto.  “Felizmente, temos a certeza de que começaremos um novo período de avanços na saúde da população brasileira”.

Nísia Trindade, presidente da Fiocruz e abrasquiana, fez uma fala sobre a Ciência & Tecnologia, a importância de contribuir para a reconstrução do SUS e da sociedade. “Vejo a ciência e a política como pilares que precisam caminhar juntos. É hora de valorização da política, a política em defesa dos valores da democracia e da equidade. O sociólogo Klauss Eler afirma que as sociedades aprendem, mas o mundo é difícil de mudar. Em que sentido desejamos essa mudança ? Mais do que retomada precisamos pensar em um país e uma sociedade efetivamente democrática”. 

O SUS universal e público, a recuperação da Democracia e a reafirmação dos direitos do povo brasileiro não são uma conquista só para o nosso país: representa ventos de esperança para toda a América Latina. Socorro Gross, representante da OPAS/OMS no Brasil, afirmou que é necessário “Um Brasil que abrace a região das Américas”. Para Gross, um SUS que diga sim para todas as pessoas significa, também, “Fazer da nossa América Latina uma América Latina forte, com justiça social”.

Em nome da OPAS, a diretora entregou uma homenagem à Abrasco, para a presidente Rosana Onocko. Confira.

Também participaram da mesa Luis Eugenio de Souza, diretor do Instituto de  Saúde Coletiva da UFBA e presidente da WFPHA; Paulo Cesar Oliveira, reitor da UFBA; Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS); Stela Souza, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde da Bahia; Gizele de Jesus, do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia. 

Adélia Pinheiro, representou o governador Rui Costa. Também estiveram Davidson Magalhães, André Pinho Joazeiro e Julieta Palmeira, respectivamente secretários do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte; Ciência, Tecnologia e Inovação; e Política para Mulheres do estado da Bahia. O governador eleito, Jerônimo Rodrigues, enviou um e-mail para Rosana Onocko, cumprimentando-a pelo evento e saudando toda a comunidade científica reunida no evento. 


+ 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra: pesquisadoras e pesquisadores negros foram homenageados 

 

A abertura foi transmitida pela TV Abrasco. Assista:

 

 

PopRua

Como parte da programação pré-congresso, a Fiocruz Brasília ministrou o curso População em situação de rua: Políticas públicas, serviços, processos de trabalhos e clínicas. A capacitação, voltada para trabalhadores, gestores e estudantes, foi ministrada pelo pesquisador e psicólogo sanitarista Marcelo Pedra, um dos coordenadores do Núcleo de Populações em situações de Vulnerabilidade e Saúde Mental na Atenção Básica (NUPOP) da Fiocruz Brasília. O curso apresentou o fenômeno da situação de rua no Brasil, a partir das principais pesquisas de campo e na perspectiva da caracterização do fenômeno. Foram discutidas ainda as Políticas Públicas específicas para a população em situação de rua (PSR), os serviços das redes SUS e SUAS que atuam com esta população, os processos de trabalho das equipes do Consultório na Rua e Centro Pop, assim como os principais conceitos operacionais da clínica, para a atuação com a PSR.

 

Marcelo Pedra destacou que o público presente na formação foi bem plural, contando com a presença de graduandos da área de medicina, enfermagem e psicologia; pós-graduandos da saúde coletiva e representantes dos movimentos sociais, de instituições que trabalham com a população em situação de rua e conselhos de participação social. Ele reforçou ainda que o curso trabalhou as dimensões de pensar a inserção das políticas públicas, o lugar da gestão e a formação clínica no SUS voltadas para a PSR. 

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