Formação-Ação fortalece o cuidado com os territórios e a promoção da saúde no sudeste paraense

Fiocruz Brasília 10 de novembro de 2025


Iris Pacheco (Psat/Fiocruz Brasília)

 

Formação-Ação MarabáEntre os dias 27 e 29 de outubro, foi realizado, em Marabá (PA), o primeiro módulo da Formação-Ação em Promoção da Saúde e Participação Social. A iniciativa que integra reflexões participativas, práticas dialógicas e os princípios da educação popular e da saúde coletiva, reuniu também representantes de municípios do Maranhão e de Tocantins, promovendo trocas, escutas e aprendizados coletivos que fortalecem o compromisso com os Territórios de Cuidado.

 

Cada diálogo foi um convite a olhar para o território como um espaço vivo, onde saúde, cultura e educação se encontram. A formação combina momentos teóricos e práticos — sendo três etapas presenciais e duas em tempo comunidade — e busca reafirmar que promover saúde é também fortalecer vínculos, reconhecer saberes e construir coletivamente o bem-viver.

 

Mestre em Política Social e terapeuta ocupacional, Mercedes Zuliani, destacou a importância de compreender a dinâmica entre saúde, doença e cuidado no território. “É essencial entender as determinações sociais que impactam a produção da saúde, especialmente em regiões marcadas pelos grandes projetos do capital e pelas iniquidades. Essa compreensão é o primeiro passo para pensar estratégias de transformação da realidade.”

 

Território, saúde e resistência

 

A realização da formação em Marabá, no sudeste paraense, carrega um significado simbólico e político. A região é historicamente conhecida como uma das áreas com maior incidência de conflitos agrários e violência no campo em todo o Brasil.

 

De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o estado do Pará lidera há anos os rankings nacionais de conflitos e assassinatos por disputas de terra. A região é marcada por uma combinação de fatores que acirram tensões: a expansão do agronegócio, a grilagem de terras públicas, a ausência de reforma agrária efetiva e a impunidade diante da violência no campo.

 

Um dos casos mais recentes, aconteceu no último dia 3 de novembro, no município de Novo Repartimento (PA), onde as quebradeiras de coco babaçu e trabalhadoras extrativistas, Antônia Ferreira dos Santos e Marly Viana Barroso, ao saírem pela manhã para realizar seu trabalho tradicional — a coleta do coco babaçu — atividade que sustenta milhares de famílias em comunidades amazônicas e do Cerrado —, foram brutalmente assassinadas.

 

Grandes projetos: violências e adoecimento

 

A jovem Elaine Barros, do Movimento pela Soberania na Mineração (MAM), refletiu sobre as determinações sociais da saúde e os efeitos dos grandes empreendimentos sobre as populações tradicionais.

 

“Esses projetos causam a expulsão dos nossos povos, empurrando-os para os centros urbanos de forma desigual. Isso reforça o racismo ambiental, a insegurança alimentar e a desigualdade, pois quando somos retirados de nossas tradições, somos forçados a consumir o que o agronegócio coloca na mesa.”

 

Formação-Ação MarabáNesse contexto, falar sobre promoção da saúde e participação social é também um ato de resistência — de afirmação do direito à vida, ao território e à dignidade das comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas e camponesas que lutam diariamente por seus modos de viver.

 

Edilene Oliveira, diretora do Sindicato dos Trabalhadores de Rondon do Pará (Fetagri-PA), também destacou os impactos do agronegócio e dos grandes projetos sobre o solo, o meio ambiente e o modo de vida das comunidades geram consequências diretas na saúde e na produção de alimentos. “A gente vê muitas disputas do agronegócio, dos grandes projetos, que cercam nossos territórios, contaminando nosso solo, poluindo o meio ambiente. Isso gera impactos ambientais e humanos, sobre nossa saúde e em nosso modo de produção”, denuncia.

 

Durante a formação, mulheres, jovens, lideranças comunitárias e trabalhadores rurais compartilharam suas vivências e reflexões sobre o cuidado, o território e a luta por justiça social.

 

“Aqui me reencontrei, principalmente quando eu olho lá atrás para o cuidado medicinal, que a gente tem perdido em nossas comunidades com o uso do remédio farmacêutico. Esse é um momento muito rico, pois tem também a questão da troca de saberes com as pessoas de outros territórios”, ressalta Adriana Oliveira, trabalhadora rural e quilombola de Açailândia (MA). 

 

Nesse sentido, considerando a realidade da região, a formação-ação reafirma a convicção de que cuidar do território é cuidar das pessoas — e que a promoção da saúde vai muito além do atendimento médico: envolve o fortalecimento das redes comunitárias, o reconhecimento dos saberes tradicionais e a defesa da vida em todas as suas dimensões.